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27 de Junho de 2020, dia do Apocalipse véspera do meu aniversário (e quando comecei esse texto, isso é, semana passada após uma maratona da última temporada de Dark que possivelmente será a tônica neste texto).

No último dia 28 completei 35 anos de idade e nem nos meus sonhos mais malucos eu imaginava isso acontecendo em meio a coisas tão diametralmente opostas quanto uma pandemia e com a minha esposa grávida da nossa primeira filha.

Pra falar a verdade, eu nunca fui de pensar muito em aniversários. Quem me conhece sabe que todo ano, quando vai chegando perto e me perguntam o famoso “e aí, vai fazer o que no seu aniversário?” eu nunca tenho nada em mente e acabo decidindo tudo de última hora. E nem é porque eu não gosto nem nada, eu só não penso muito sobre.

Mas nesse eterno ano de 2020 não tem como. Só que quando começamos a refletir sobre fazer aniversário invariavelmente refletimos sobre toda nossa vida até então, nossos passos, escolhas, pessoas que conhecemos e tal, não só sobre, sei lá, o último ano. É assim que a mente funciona.

Completo três décadas e meia no que eu tranquilamente posso chamar de melhor momento da minha vida adulta. Sou apaixonado e casado com a mulher da minha vida, vou ser pai de uma menina daqui pouco mais de 2 meses, tenho um trabalho que nos proporciona uma vida mais do que confortável (o que é um oásis nesse mundo doente de hoje) e, sinceramente, não tenho nada do que reclamar.

E o caminho até aqui foi, no mínimo, interessante. Envelhecer é um processo que possui uma das coisas que eu mais abomino na vida que é a total falta de controle sobre o que pode ou não acontecer (tipo como um… Apocalipse). Só que, ironicamente, é provavelmente por conta dessa falta de controle que eu estou aqui do jeito que estou aqui.

Foi justamente por ter feito escolhas erradas que, hoje, talvez o meu julgamento sobre o que é certo ou errado é um pouquinho melhor; foi justamente por ter sido uma pessoa não muito boa algumas vezes que hoje eu tento ser a melhor pessoa possível que cada situação pede; foi justamente por ter me silenciado diante de injustiças e absurdos que hoje eu busco me posicionar sempre que possível. Enfim, foi por ter achado que o mundo girava em torno do meu umbigo, das minhas dores e angústias que hoje – embora ainda esteja longe de ter eliminado esse comportamento – sei que eu importo tanto quanto qualquer outra pessoa nesse planeta.

Estamos vivendo a era da lacração e desconstrução, onde todo mundo tem uma opinião sobre tudo e todos o tempo inteiro e estamos sempre com dedos a postos pra botar na nossa cara com um sonoro “eu avisei” (eu incluso). Mas desconstruir-se é um processo que leva mais tempo que um vídeo o YouTube e exige mais estudo do que 280 caracteres no Twitter, além de prescindir da sua mente disposta a ser corrigida. Por fim, sejamos honestos: o processo de desconstrução nessa nossa sociedade desigual, viciada e esgotada não termina. Nunca estaremos livres de todos os nossos preconceitos e arrogâncias.

E assim chego aos 35 anos de idade, muito melhor do que eu já fui, mas ainda longe de ser a pessoa que eu posso e quero ser.

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