Alê Flávio

"À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"

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Trinta e oito

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Há 38 anos, aproximadamente às 10 horas da manhã, eu nascia. De acordo com relatos (sim, porque mesmo estando lá, eu obviamente não me lembro) nasci com o cordão umbilical enrolado no pescoço e praticamente sem ar.

Assim como buscava o ar naquele dia, busco as palavras neste meu trigésimo-oitavo aniversário. Como qualquer pessoa, há coisas boas e ruins nessas quase quatro décadas de existência; há decisões acertadas e completamente imbecis; há vitórias e (muitas) derrotas; há amores, há dores. Há. Se eu pudesse resumir em uma sentença minha vida até aqui eu diria que “é uma busca por simplesmente poder existir“.

E sei lá se isso faz sentido. Digo, hoje escrevo essa nota com um turbilhão de coisas na minha cabeça. Além de ontem ter sido, talvez, um dos dias mais complicados da minha vida recente, de meses pra cá as coisas na minha vida pessoal, profissional, imaginária, todas elas, tomaram um rumo inesperado como nem o Aronofsky (Cisne Negro, Mãe, Réquiem Para um Sonho) é capaz de fazer nos seus filmes. E, por mais que eu saiba que há centenas de milhares de histórias muito mais complexas que a minha, não quer dizer que é fácil. E tá tudo bem. Eu acho.

Uma vez eu ouvi que parece que eu sempre estou buscando alguma coisa – e acho que, até hoje, é o que mais faz sentido pra tentar situar meu eu-no-mundo. Já quis ser músico, jogador de vôlei, professor, pesquisador, programador, escritor, poeta, cara-do-TI – mas nunca quis ser o Alê.

O Alê é, ao mesmo tempo, só mais um e alguém que não cabe em si mesmo. É uma idéia (oi Lula) que, de acordo com a minha cabeça, é impossível de atingir. É um homem com lampejos de menino que só quer ser visto e acolhido. É um pai que quer que a vida seja gentil e brilhante pra filha cacheada – sua melhor parte nesse mundo.

A todos vocês que fazem parte da minha história de alguma maneira (desculpem, não vou citar ninguém) eu gostaria de, ao mesmo tempo, agradecer e me desculpar. Agradecer por vocês escreverem parágrafos e capítulos no meu livro e me desculpar por, eventualmente, não ser o Alê que vocês queiram e precisem.

Hoje, 28 de Junho de 2023, eu sigo buscando o ar que me falta para viver de maneira plena e ganho uma nova chance de tentar fazer as coisas direito e de acordo com o que eu acredito. Espero que vocês sigam por aqui comigo.

Um beijo.

Alê Flávio

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Never Turn Your Back on Friends

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Nota do Alê: Esse texto foi escrito em 2016… até hoje não sei por qual razão não o publiquei.

Nostalgia e saudade são coisas engraçadas. É tipo dor de barriga: vem na hora que você menos espera.

Estava eu trabalhando ~alegremente~ quando me bateu aquela baita vontade de ouvir Blind Guardian. Mas eu não queria ouvir qualquer coisa: queria ouvir MIRROR MIRROR. O Blind é uma banda que, em um período da minha vida, eu achava uma porcaria. Rebeldia vazia e poser de adolescente, sabe? Até que um dia fui chamado pelo meu irmão André Colin pra tocar na banda dele, que por coincidência, era a mesma banda dos veteranos metaleiros lá na ETELG.

Sim, metal. Segundo números do Instituto Data-Fodase, 72,36% dos adolescentes que têm banda, têm banda de metal; e, no repertório que eu tinha que tirar pro primeiro ensaio, entre Megadeths e Helloweens, lá estava: Blind Guardian – Mirror Mirror. Dei uma torcidinha de nariz, mas, porra, eu ia entrar numa banda de metal! Vamos lá tirar o som…

Na primeira ouvida, pirei na música. Porradaria, guitarras frenéticas, bumbo duplo, Tolkien, doideira. Já era: eu tava gostando de Blind. Só que essa música (e o Nightfall In The Middle Earth) ganhava um lugarzinho no meu coração. E só ia aumentar nossa relação headbanger dali em diante.

Em 2003, fomos convidados para um festival de bandas em Okinawa (não no Japão – num clube em Diadema mesmo). Estávamos super empolgados, pois tínhamos um set matador, o melhor baterista do mundo (caralho André, que saudade), uma comanda com uma boa quantidade consumível de álcool, caras de mau e camisas pretas. Na hora de Mirror Mirror, quebra o pedal duplo do André… Meu Deus e agora?? Pro nosso delírio, e da galera, o André puxa o microfone e diz: “aí, meu pedal duplo quebrou. Mas foda-se: vamos tocar Mirror Mirror pra vocês“. Lembro como se fosse ontem. A gente tocou a música mais rapidamente que o normal (o que deixava a música, que é treta de tudo na batera, mais embaçada ainda), mas – com toda a modéstia do mundo à parte – arregaçamos, em especial o André; eu lembro de ver a galera lá embaixo se matando e nós, em cima do palco, em êxtase. Praticamente celebrávamos nossa amizade naquele dia de maneira grandiosa num dos que foi um de nossos melhores shows – e numa Mirror Mirror violenta.

Mas, 2 anos depois, veio aquela voadora seca do destino, que quis que perdêssemos o convívio de nosso amigo André. O cara que, era o espírito elevado daquela banda; o meu irmão postiço que passava horas e horas comigo, sentado nas escadas da ETELG, cantando os instrumentais dos sons que gostávamos. O cara que simboliza pra mim como a simplicidade e o respeito são as duas características mais importantes e nobres que o ser-humando pode ter. Alguém que faz uma falta desgraçada nesse mundo egoísta e primitivo.

Mas, na real? Ele ainda está por aqui e eu tenho certeza que é ele que sopra essa nostalgia musical na minha alma vez ou outra; eu tenho certeza que é ele que mantém o laço apertado entre todos nós há tanto tempo. E eu tenho um orgulho do caralho de ter tocado esse som com esses caras e de poder dizer que eu conheço, convivo e toco com esses caras até hoje.

A vida é curta, meus amigos. Mais do que a gente imagina. Não perca tempo reclamando de pequenices, absorva tudo de bom que está aí pra ser absorvido e compartilhe isso com as pessoas que você ama.

(…)
How shall we leave the lost road

Time’s getting short so follow me
A leader’s task so clearly
To find a path out of the dark

Até logo.

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O controle não existe. At all.

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Faz um tempo que eu num apareço por aqui. Tenho ficado mais no meu caderno ou, o que é pior, dentro da minha cabeça.

Eu sempre digo que escrever me ajuda a ventilar e, sobretudo, a colocar as coisas em perspectiva. É piegas, mas é verdade. Mas colocar as coisas em perspectiva é, em alguns casos, se dar conta do caminho à frente.

E nem sempre o caminho à frente é uma estradinha de tijolos amarelos.

Aí a gente num coloca nada em perspectiva e deixa as vozes da cabeça (obrigado por esse episódio, Cris!) falando cada vez mais alto. E as vozes da nossa cabeça não falam necessariamente o que a gente quer ouvir né. Daí, caos, dedo no cu e gritaria – e haja dipirona.

A vida é um negócio bem complexo. Não, sério, é BEM complexo. A gente tende a simplificar pra conseguir lidar com ela, mas no geral é um troço muito sem sentido. A gente (eu incluso pra caralho) romantiza muito com essa coisa de “não, as coisas são simples, a gente que complica“, mas na verdade eu acho que é o contrário, viu.

Acho que só quando a gente aceita que as coisas são complexas e que, por mais que você tenha toda a vontade do mundo pra direcioná-las pra uma resolução que ajude aquele bolo de angústia na garganta se desfazer, nunca vai ser possível se antecipar às aleatoriedades do Deus jogador de The Sims (referência ao grande amigo Gus Ramalho).

E eu odeio não ter controle sobre coisas que me fazem querer pular de uma ponte. E não adianta minha terapeuta ter falado os últimos, sei lá, 8 anos que “as coisas são assim, Alê, tem coisa que a gente não controla mesmo“. Eu sei que a gente não controla uma porrada de coisa, mas caralho e eu faço o que? Morro de gastrite? Grito até ficar rouco? Pulo, finalmente, da ponte? Que saco.

Tá, eu sei, vocês dirão “faz terapia, conversa com um amigo, bebe”. Legal, isso resolve… por um tempo – mas o simples fato de saber que algumas dessas coisas vão voltar a acontecer (porque é isso que a vida é) já faz eu sentir meu estômago virar, a cabeça doer e a garganta fechar.

Mas é isso. No fim das contas eu num quero uma solução, não. Só tou vendo se, ao colocar as coisas pra fora de maneira crua e “pública” e sem pensar no que eu tou escrevendo ajuda.

Veremos.

Abs

PS.: Relaxem, não vou pular de uma ponte.

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