Alê Flávio

"À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"

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O controle não existe. At all.

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Faz um tempo que eu num apareço por aqui. Tenho ficado mais no meu caderno ou, o que é pior, dentro da minha cabeça.

Eu sempre digo que escrever me ajuda a ventilar e, sobretudo, a colocar as coisas em perspectiva. É piegas, mas é verdade. Mas colocar as coisas em perspectiva é, em alguns casos, se dar conta do caminho à frente.

E nem sempre o caminho à frente é uma estradinha de tijolos amarelos.

Aí a gente num coloca nada em perspectiva e deixa as vozes da cabeça (obrigado por esse episódio, Cris!) falando cada vez mais alto. E as vozes da nossa cabeça não falam necessariamente o que a gente quer ouvir né. Daí, caos, dedo no cu e gritaria – e haja dipirona.

A vida é um negócio bem complexo. Não, sério, é BEM complexo. A gente tende a simplificar pra conseguir lidar com ela, mas no geral é um troço muito sem sentido. A gente (eu incluso pra caralho) romantiza muito com essa coisa de “não, as coisas são simples, a gente que complica“, mas na verdade eu acho que é o contrário, viu.

Acho que só quando a gente aceita que as coisas são complexas e que, por mais que você tenha toda a vontade do mundo pra direcioná-las pra uma resolução que ajude aquele bolo de angústia na garganta se desfazer, nunca vai ser possível se antecipar às aleatoriedades do Deus jogador de The Sims (referência ao grande amigo Gus Ramalho).

E eu odeio não ter controle sobre coisas que me fazem querer pular de uma ponte. E não adianta minha terapeuta ter falado os últimos, sei lá, 8 anos que “as coisas são assim, Alê, tem coisa que a gente não controla mesmo“. Eu sei que a gente não controla uma porrada de coisa, mas caralho e eu faço o que? Morro de gastrite? Grito até ficar rouco? Pulo, finalmente, da ponte? Que saco.

Tá, eu sei, vocês dirão “faz terapia, conversa com um amigo, bebe”. Legal, isso resolve… por um tempo – mas o simples fato de saber que algumas dessas coisas vão voltar a acontecer (porque é isso que a vida é) já faz eu sentir meu estômago virar, a cabeça doer e a garganta fechar.

Mas é isso. No fim das contas eu num quero uma solução, não. Só tou vendo se, ao colocar as coisas pra fora de maneira crua e “pública” e sem pensar no que eu tou escrevendo ajuda.

Veremos.

Abs

PS.: Relaxem, não vou pular de uma ponte.

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Então é Natal? (Ou: Boas festas pra quem?)

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Num desceu, mesmo.

Natal, pra mim, sempre foi uma época um pouco estranha. Eu nunca tive, necessariamente, Natais memoráveis, ou coisa do gênero, como boa parte das pessoas têm (ou, pelo menos, como parece nas redes dessas pessoas). Então, além de ser um período mais reflexivo por natureza, eu ainda tenho outras questões pra lidar internamente e fico reflexivo x10.

Mas isso nunca foi um problema de verdade.

Só que dessa vez algum fio desencapado entrou em curto e, pela primeira vez em muito, muito tempo o meu Natal foi, parcialmente, uma bosta. Só que nunca é só isso ou só aquilo, né.

A vida é difícil. Pra uns mais, pra outros menos. Pessoas carregam dores, histórias, conquistas e fracassos e, portanto, cada um tem uma perspectiva das coisas e age (em geral) de acordo com elas. A gente aprende a aceitar as idiossincrasias (sempre quis usar essa palavra num texto) das pessoas ao nosso redor pra conseguir viver com um mínimo de sanidade; a gente tenta ter um fio de empatia pra se colocar no lugar do outro e entender suas frustrações com a gente e com as nossas atitudes, mas, e a mim, quem entende? Quem tenta entender minhas frustrações? Quem pergunta como eu estou e se eu preciso de algo?

Dessa vez eu percebi que cansei de ser 190 o tempo todo, mas ter o telefone desligado na cara quando eu ligo de volta pra pedir ajuda – ou só pra perguntar se tá tudo bem. E eu senti algumas alavancas sendo acionadas em mim.

Eu não sou uma pessoa fácil, eu sei. Mas, ao mesmo tempo, eu sofro da mesma coisa que todo mundo que tem um coração batendo e uma alma queimando sofre: eu sinto. E eu sinto muito. Nem sempre eu sei colocar em palavras a avalanche de coisas que passa na minha cabeça num determinado momento ou situação; nem sempre eu consigo ter a sabedoria do que é melhor fazer e o que é melhor deixar de fazer; nem sempre eu quero ser pedra fundamental da igreja de ninguém.

Quando eu comecei a rascunhar essas palavras (na noite de Natal mesmo) a idéia era de fato um desabafo, mas eu parei quando começou a se tornar um consolidado de ataques agressivos e gratuitos e algumas luzes de emergência se acenderam aqui dentro. O texto tá cozinhando na minha cabeça há quase 1 semana já e eu já tava aqui desistindo de publicar quando, respondendo um email de trabalho sobre uma pequena confusão num projeto por conta de um mal-entendido, lembrei que se a gente não tira as coisas aqui de dentro, elas viram os demônios do Constantine (se você não assistiu, acho que esse trecho (até 1:00, mais ou menos) explica o que eu quero dizer) só sussurrando coisa ruim no meu ouvido.

As pessoas, todas elas, têm suas batalhas pessoais. Mais do que isso, cada um tem uma vida pra ser vivida e, às vezes, algumas coisas vão ficando pelo caminho porque é assim que banda toca. Ninguém deixa de visitar um tio distante ou um amigo da pré-escola porque é ingrato ou ruim.

O Natal, pra além dos presentes e da gula desenfreada, deveria ser uma época de se lembrar de como, apesar de tanta coisa bosta no mundo, nascem coisas boas o tempo todo. E não época de se sentir mal por Ser.

Boas festas, pessoas. Mal aí.

Abraços.

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“Do que tem aqui não falta nada”*

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*Essa é uma das frases mais engraçadas (e verdadeiras) que eu já ouvi na minha vida – e o humor é a marca do meu tio Paulinho, sobre quem falo mais no fim desse texto.

“Muitos que vivem merecem a morte. E alguns que morrem merecem viver. Você pode dar-lhes a vida? Então não seja tão ávido para julgar e condenar alguém a morte. Pois mesmo os muitos sábios não conseguem ver os dois lados.”

A citação acima é uma fala do Gandalf, em Senhor dos Anéis. Acho incrível com o Tolkien usa seu “mago sábio” como veículo pra reflexões em certa medida profundas – e o quanto isso se aplica a diversos momentos na vida.

A morte é algo que gera todos os tipos de sentimentos e não só tristeza, como se costuma pensar. Quando alguém morre, imediata e egoisticamente nos colocamos a pensar sobre nossa própria finitude; em como a morte de um terceiro nos afeta e não necessariamente na pessoa que se foi. Já diria Daniel Gildenlöw em uma das faixas do álbum Be: “eles me dizem que você não sente mais dor / onde você está agora / bem, você a deixou aqui“.

A gente sempre tenta racionalizar um dos eventos mais complexos da existência humana, tenta culpar alguém ou algo, acha que tinha que ter feito isso ou aquilo, tenta sentir “o que se deve sentir” como se houvesse um manual de como lidar com a perda de alguém. E, nessas, a gente se esquece que, das coisas que temos pouco ou nenhum controle, talvez a morte seja a mãe delas.

A vida, infelizmente, acaba. É assim que é. Mas a passagem da pessoa pela vida fica eternizada; pessoas deixam marcas distintas no mundo e na gente e, enquanto lembrarmos que por um espaço de tempo dividimos momentos bons, felizes e únicos, talvez fique mais fácil lidar com a dor da perda. Afinal, do que tem aqui num falta nada – e nunca vai faltar.

Tio, eu sei que você sempre acreditou em Deus e sempre amou a vida de uma maneira só sua – e isso vai iluminar e guiar sua passagem e seu descanso eterno. Eu serei eternamente grato por ter aprendido a ver leveza na vida de um jeito único que só você tinha. Desculpa se, nos últimos anos, a distância (que sempre foi geográfica) talvez tenha se tornado um pouco mais emocional também (por falta de um termo melhor) mas, no meu coração, você sempre será o tio que me deixava dirigir um Opala sentado no seu colo e com um sorriso enorme no rosto.

Que Deus te receba e te abençoe. A gente cuida da vó (se bem que é mais fácil ela cuidar da gente tudo…), tá?

Te amo.

Living comes much easier
Once we admit
We’re dying

“Lines in the sand”, Dream theater. Álbum “Falling into infinity”
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