"À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"

Tag: metal

Never Turn Your Back on Friends

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Nota do Alê: Esse texto foi escrito em 2016… até hoje não sei por qual razão não o publiquei.

Nostalgia e saudade são coisas engraçadas. É tipo dor de barriga: vem na hora que você menos espera.

Estava eu trabalhando ~alegremente~ quando me bateu aquela baita vontade de ouvir Blind Guardian. Mas eu não queria ouvir qualquer coisa: queria ouvir MIRROR MIRROR. O Blind é uma banda que, em um período da minha vida, eu achava uma porcaria. Rebeldia vazia e poser de adolescente, sabe? Até que um dia fui chamado pelo meu irmão André Colin pra tocar na banda dele, que por coincidência, era a mesma banda dos veteranos metaleiros lá na ETELG.

Sim, metal. Segundo números do Instituto Data-Fodase, 72,36% dos adolescentes que têm banda, têm banda de metal; e, no repertório que eu tinha que tirar pro primeiro ensaio, entre Megadeths e Helloweens, lá estava: Blind Guardian – Mirror Mirror. Dei uma torcidinha de nariz, mas, porra, eu ia entrar numa banda de metal! Vamos lá tirar o som…

Na primeira ouvida, pirei na música. Porradaria, guitarras frenéticas, bumbo duplo, Tolkien, doideira. Já era: eu tava gostando de Blind. Só que essa música (e o Nightfall In The Middle Earth) ganhava um lugarzinho no meu coração. E só ia aumentar nossa relação headbanger dali em diante.

Em 2003, fomos convidados para um festival de bandas em Okinawa (não no Japão – num clube em Diadema mesmo). Estávamos super empolgados, pois tínhamos um set matador, o melhor baterista do mundo (caralho André, que saudade), uma comanda com uma boa quantidade consumível de álcool, caras de mau e camisas pretas. Na hora de Mirror Mirror, quebra o pedal duplo do André… Meu Deus e agora?? Pro nosso delírio, e da galera, o André puxa o microfone e diz: “aí, meu pedal duplo quebrou. Mas foda-se: vamos tocar Mirror Mirror pra vocês“. Lembro como se fosse ontem. A gente tocou a música mais rapidamente que o normal (o que deixava a música, que é treta de tudo na batera, mais embaçada ainda), mas – com toda a modéstia do mundo à parte – arregaçamos, em especial o André; eu lembro de ver a galera lá embaixo se matando e nós, em cima do palco, em êxtase. Praticamente celebrávamos nossa amizade naquele dia de maneira grandiosa num dos que foi um de nossos melhores shows – e numa Mirror Mirror violenta.

Mas, 2 anos depois, veio aquela voadora seca do destino, que quis que perdêssemos o convívio de nosso amigo André. O cara que, era o espírito elevado daquela banda; o meu irmão postiço que passava horas e horas comigo, sentado nas escadas da ETELG, cantando os instrumentais dos sons que gostávamos. O cara que simboliza pra mim como a simplicidade e o respeito são as duas características mais importantes e nobres que o ser-humando pode ter. Alguém que faz uma falta desgraçada nesse mundo egoísta e primitivo.

Mas, na real? Ele ainda está por aqui e eu tenho certeza que é ele que sopra essa nostalgia musical na minha alma vez ou outra; eu tenho certeza que é ele que mantém o laço apertado entre todos nós há tanto tempo. E eu tenho um orgulho do caralho de ter tocado esse som com esses caras e de poder dizer que eu conheço, convivo e toco com esses caras até hoje.

A vida é curta, meus amigos. Mais do que a gente imagina. Não perca tempo reclamando de pequenices, absorva tudo de bom que está aí pra ser absorvido e compartilhe isso com as pessoas que você ama.

(…)
How shall we leave the lost road

Time’s getting short so follow me
A leader’s task so clearly
To find a path out of the dark

Até logo.

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Deus fez o Rock and Roll… e o Samba, o Choro, o Funk

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Eu sou rockista de origem. Cresci ouvindo rock progressivo por parte de pai e, até hoje, talvez seja meu estilo de música preferido, junto ao blues. Até por conta disso eu me interessei por instrumentos musicais e comecei a tocar violão e, posteriormente, guitarra.

E não faz muito tempo eu fazia parte do seleto grupo (ironia inclusa) de músicos roqueiros adoradores do diabo que fazia pouco caso de outros estilos musicais, sobretudo os mais populares, por motivos de imbecilidade mesmo. Muito bem.

Outro dia tava ouvindo um som da Ludmila que tava tocando numa rádio e me peguei pensando justamente nisso: como o preconceito musical é uma construção que não vem, essencialmente, de lugar nenhum que faz sentido. Digo, é claro que uma pessoa sempre vai gostar mais de uma coisa e menos de outra, mas a correlação quase inata que a gente faz na cabeça é “se eu gosto é bom, se eu não gosto é ruim”.

E é justamente por isso que eu mencionei o lance de ser roqueiro no começo. O rock é conhecido pela paixão e devoção que seus apreciadores têm com o estilo, suas bandas; é um estilo de vida e, geralmente, termos como “irmandade” e “família” são utilizados pra se referir a este grupo – e eu acho isso foda. Mas, infelizmente, ficando mais velho, amadurecendo e prestando mais atenção em algumas coisas, comecei a notar em como há um componente que aproxima o rock de uma seita. Explico.

Já perceberam que apreciadores de rock (de qualquer vertente) costumam trabalhar naquele conceito da qualidade? “Tal música não tem harmonia”, “Tal coisa não é música, é barulho”, “Tal banda é simples demais” etc. É como se o rock fosse um gênero superior e outros fossem meras tentativas fazer barulho.

E isso é foda porque, com o tempo, começa a esvaziar a importância que o gênero sempre teve pra música, seja como protesto, seja como expressão artística, além de gerar bode sobre quem ouve esse tipo de som. Não é incomum associar músicos de rock a setores mais conservadores, reacionários e retrógrados da sociedade (até porque, em geral, é isso que é mesmo).

Na minha modestíssima opinião, o rock tem papel fundamental na demonização de gêneros tipo funk (aliás, adoro o famoso “mas isso que tem aqui nem é funk original, o funk mesmo é…“), pagode, samba, sertanejo entre outros (independentemente de gosto – não é o ponto aqui). Tal como o doisladismo político, parte integrante do jornalismo medíocre contemporâneo, o rock sempre foi posto como “a antítese de algo tido como de baixa qualidade intelectual e técnica” – e a gente, sem nem perceber, engole.

Mais do que frequentemente, o primeiro ponto de crítica ao funk é em relação às letras pornográficas e, em geral, preconceituosas e machistas. Mas nunca ouvi ninguém revoltado com, por exemplo, Mötley Crue:

Eu sou um bom, bom garoto
Eu só preciso de um brinquedo novo
Eu vou te dizer, garota
Dance pra mim, eu manterei você super ocupada
Apenas me conte uma história
Você sabe de qual eu estou falando

Mötley crue – girls, girls, girls

Por que? Porque não é óbvio, tipo “senta, senta, senta”? Por que é em outro idioma? Porque, se for por isso, eu posso dar um exemplo mais próximo ainda:

“As mulheres e as galinhas
São dois bichos interesseiros
A galinha pelo milho
E a mulher pelo dinheiro”

Abre essas pernas pra mim baby
Tô cansado de esperar
Você dá pra todo mundo
Só pra mim que você não qué dá

Velhas virgens – abre essas pernas

E aí? E tem mais… Raimundos, Camisa de Vênus, Ultraje..

O que eu quero dizer com esse texto que parece não ter pé nem cabeça é que, infelizmente, o rock que eu tanto amo até hoje, como todo e qualquer gênero musical, tem coisas ruins e boas, porém, parece-me que o rock sempre esteve meio que liberado pra ser machista, escroto, reacionário e politicamente incorreto. E eu não sei se a gente fala tanto disso quanto poderia/deveria.

Hoje, depois de muito tempo, ouço essencialmente qualquer coisa e ainda há coisas que acho ruins, toscas e pras quais sempre solto o meu jargão “isso é uma grande bosta”. Porém, passei a não mais olhar pro rock, metal e zas como uma espécie de oásis de qualidade e elevação espiritual em meio aos outros sons.

A música cumpre diversos papéis na sociedade e é, sobretudo, expressão cultural de comunidades, regiões, povos – não tem a menor condição de ficarmos eternamente criando pedestais qualitativos por aí.

Referência do título deste post aqui.

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