"À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"

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Sobre hiatos, enxaquecas e fragilidade.

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Lá se vai quase uma semana do último texto

Tudo bem, a intenção definitivamente não é tratar isso aqui como uma obrigação, né, mas mesmo assim. No entanto, há que se ressaltar que a última semana foi… intensa. Filha doente, depois eu doente – coisas da vida.

Pelo menos meu eu lírico parece estar começando a chegar perto da velha forma. Digo isso, pois, conforme os dias passam, leio notícias, textos, converso e ouço pessoas conversarem e o “opa, isso dá um bom texto” voltou a pular na minha cabeça.

Hoje num deve sair nenhum desses porque eu realmente to, como diria minha falecida vó, todo piriripotético (que é algo como mais pra lá do que pra cá). Ontem eu tive uma enxaqueca filha da puta, dessas de ir pro hospital, que eu nunca tinha tido na minha vida – e minha mente tá fisicamente confusa ainda. Tá louco.

A gente é frágil demais, num é? É de se pensar.

E num tô falando sobre pensar em morte não, nada disso, mas principalmente como o ser humano é meio bostão mesmo. Beleza, a gente evoluiu nosso cérebro a ponto de inventar e construir coisas que nos permitam viver bem e por muito tempo (até mais tempo do que o ideal, acho), mas quando a gente olha só pra gente mesmo, como indivíduo de carne e osso, a gente é… frouxo frágil.

E isso leva pra milhares de outras reflexões que se eu começar agora isso aqui vira um manifesto, embora seja impossível não mencionar o nível da nossa arrogância nessas horas.

Pensem no que fez um vírus com aproximadamente 6,5 milhões de pessoas no planeta todo (números de 18/10/2022)? Ou no fato de que em vez da gente perder tempo pensando em melhor alimentação, menos carro parado no trânsito, menos poluição, mais tempo livre, essencialmente previnir, a gente prefere remediar mesmo, e de maneira quase literal: é remédio pra controlar pressão, glicemia, estresse, insônia… porque essa é a lógica que a gente escolheu pra gente mesmo, num é? Liberdade pra foder tudo sem medo de ser feliz, desde que possamos contornar tudo gastando dinheiro com remédios e promessas vazias.

Isso me faz lembrar de uma música do Pain of Salvation que pra mim é brilhante ao tocar nesse tema. Trecho “tapa na cara” abaixo:

“Could someone please just tell me what happened? I mean, first we paid for fast-food that will make us all fat and tired. So then we pay for elevators, so we won’t have to climb the 3 stairs up to our apartments. Then we buy freaking stairmaster machines so we can burn away while watching someone make real food on TV. Now if that doesn’t make us winners, I don’t know what will. I bet we would hang ourselves if the world would just cut us a slack. And now you think maybe you should see a shrink, help (me) feel alive again, yeah, that’s a plan! Just tell us who to pay”

Kingdom of loss, Pain of Salvation

E sim, isso tudo porque tive enxaqueca um dia todo, passei 4h no hospital, saí com o famoso “olha, pode ser um monte de coisa ou só uma dor de cabeça forte mesmo” e fiquei pensando em como a gente é completamente suscetível ao imponderável.

Esse saiu do pâncreas. Espero que não tenha ficado (muito) desconexo.

Até a próxima. Ah, e façam seus exames.

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Nem Machado, nem medíocre

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Essa coisa que escrever frequentemente traz um desafio interessante pra mim além da frequência em si: não pensar muito pra escrever. Eu nunca me achei nenhuma espécie de gênio da escrita, mas também nunca quis ser ordinário e, por essa razão, as ideias ficavam (ficam) cozinhando na minha cabeça até queimarem.

Existe uma (grande) parte de mim que sempre tratou a escrita quase como uma espécie de ofício transcendente em que não se podem desperdiçar palavras. Isto é, se for pra escrever que seja digno de ser anunciado com trombetas pelos arcanjos de Deus e tal.

Suave, né? Agora tenta imaginar minha cabeça. Pois é.

Dentro dela é barulhento e eu sempre consegui colocar um mínimo de ordem – porque calar jamais consegui – escrevendo. Foram (ou são?) várias fases: de poesias cuidadosamente metrificadas no ensino fundamental, passando por letras complexas, pretensiosas e em inglês de rock progressivo no ensino médio até chegar em posts sem pé nem cabeça inúmeros blogs, contos concluídos ou pela metade, projeto de livros e a lista segue.

Em comum nisso tudo sempre essa relação com uma inspiração que vem do além e me faz escrever. Pra mim meus escritores preferidos sempre tiveram uma espécie de dom sobrenatural pra colocar as coisas no papel; talvez alguns até tivessem mesmo, mas eu sempre subestimei a coisa do sentar a bunda na cadeira e escrever, reescrever, escrever, reescrever etc etc.

Quem sabe essa novo hábito num manda o Alê perfeccionista pra casa do caralho e liberta todas as outras vozes que sussurram aqui dentro?

Veremos.

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O condomínio e o Brasil

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Às vezes é fácil entender a alienação política dos nossos concidadãos só observando comportamentos do dia a dia. Moro num condomínio em São Bernardo do Campo onde vivem algo em torno de 2000 pessoas (sim, duas mil). É maior que a cidade da minha vó no interior de SP.

Mudei pra cá no começo do ano passado durante a eleição para síndico, que rolava em meio a discussões de corrupção do antigo síndico e ineficiência na gestão do local, com muitas coisas por reformar, pouca segurança e por aí vai (soa familiar, já?). Bom, o candidato desafiante vinha com um discurso sóbrio, conservador e prometendo “mudar e investigar tudo isso aí” (minhas aspas). Foi eleito.

De 1 ano pra cá, pouquíssima coisa foi feita no condomínio, normalmente com a famigerada justificativa “porque na última gestão…“. Não falo de grandes obras ou reforma, vejam: botões de elevador estão caindo, mostradores de andar queimados, os leitores de digital da portaria são horríveis etc etc etc. Quando questiona-se o síndico ou a administração, duas coisas normalmente acontecem: ou ninguém responde ou o síndico dá uma resposta genérica normalmente levando o foco pras prioridades (de quem?).

Pra além disso, a população do condomínio é bem letárgica. Ninguém parece estar incomodado se não é algo que afeta intimamente suas vidas, como cigarro do vizinho (🙄) ou infiltrações; querer um condomínio melhor pra todo mundo parece não fazer muito sentido pra essa gente.

Durante uma reunião de condomínio, um dos moradores (da minha torre, por sinal) disse: “eu sou fã do sr. Síndico. Sou fã mesmo. Eu mando mensagem e ele responde rapidinho no WhatsApp”. Outra disse que “não entendia porque cadeirantes e/ou portadores de necessidades especiais tinham prioridade na escolha das vagas no estacionamento, afinal, alguns desses deficientes (sic) eram mais ativos que ela”.

Troque condomínio por cidade, estado ou país.

De nada.

Boa sexta.

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