"À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"

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Ideias, moléculas e água fervente

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Minha cabeça é uma coleção de ideias e ideais desorganizados, caóticos como moléculas de uma chaleira d’água em fervura.

Sempre esperei a água esfriar, mas começo a achar melhor usar a água pra passar um café enquanto compartilho meus desassossegos.

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Nossa própria distopia

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Sentei pra escrever um texto e vi meu último, que foi mais um apelo desesperado do que um artigo. De qualquer maneira, não deu e vivemos numa distopia digna de um filme do Aronofsky. Mas isso é tópico pra outro momento.

O que eu quero falar é sobre a nossa própria distopia; aquela que a gente cria pra gente mesmo diariamente e nem se dá conta.

Eu faço terapia há algum tempo já e uma das minhas queixas recorrentes é sobre minha dificuldade de me engajar em coisas além do meu trabalho normal diário; coisas que sempre me alimentaram mental e espiritualmente e me ajudaram a diminuir um pouco a pressão do dia-a-dia.

E a nossa muleta preferida é o tempo. “Não tenho tempo”, “não tive tempo”, “quando vou ter tempo pra isso”, tempo, tempo, tempo… E é justificável, vai. Vivemos em uma era em que somos sufocados diariamente por um excesso de informação e obrigações as quais achamos que devemos absorver e fazer algo com tudo. Só que, pra mim, esse é só um ponto (e não tão justificável).

Na minha opinião, o pior que criamos é a tal da distopia que comentei um pouco acima. Voltando ao meu exemplo pessoal: eu sempre escrevi razoavelmente bastante e, de uns tempos pra cá, praticamente parei. E por que parei? Bem, tempo pode ser um motivos, mas, a definição de expectativas num nível absurdamente alto e, em certa medida, inalcançável é o pior. Essa é a distopia, um mundo futuro criado à partir de um medo irracional de falhar.

Antes mesmo de nos propormos a fazer qualquer coisa, começamos a nos questionar se somos capazes, se temos o que é necessário, se vamos conseguir, se é relevante, se os outros vão gostar etc. Mais do que isso: é já ter definido na sua cabeça que não tem a menor condição (e razão) de fazer o que você quer e, então, pra que se dar ao trabalho de começar. Estamos sempre esperando demais de nós mesmos.

Por isso que expressões como “se você quer fazer algo é só começar” têm sua validade, mas não cobrem o cenário macro. Não é só preguiça. Não é só procrastinação. É auto-inveja, auto-estima baixa, medo puro, traumas, enfim, um conjunto de fatores que se nós mesmos não conseguirmos elencar e ter ciência deles, não sairemos nunca do lugar.

Eu ainda não achei uma solução pra mim em quase 5 anos de terapia e uns 2 de consciência desses movimentos. Eu tenho dificuldade de voltar a escrever frequentemente (notem o tempo entre um texto e outro), estou sempre pronto a providenciar desculpas pra não ler meus livros e tenho frases prontas pra não sentar e passar horas tocando guitarra

Esse texto é mais uma tentativa de desmontar a distopia por dentro, uma tentativa de contar pra outros que isso tudo existe e que é preciso admitir pra seguir.

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Carpe Diem, meus amigos

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Se o caro leitor já ouviu falar de Dream Theater provavelmente já ouviu falar também que eles são “uma banda muito técnica que só músico gosta; não tem feeling nenhum e é chato de ouvir”. Bom, não deixa de ser meio verdade – um pouco exagerado, mas um pouco verdade.

O DT, pra quem não conhece, é uma banda americana conhecida por ser pioneira do gênero “prog metal”, que mistura elementos do progressivo clássico (Yes, Genesis, Floyd, Rush etc) com elementos de metal tradicional. Justamente por ter sua base no progressivo, é uma banda com arranjos extremamente técnicos e músicas, em geral, longas.

Tá, e daí? Explico.

Achei um vídeo no YouTube deles tocando os 20 e tantos minutos de uma das músicas mais emblemáticas de toda a história da banda: “A Change of Seasons“. A apresentação traz um Dream Theater mais preciso e maduro do que nunca (o que, sinceramente, andou se perdendo) e um LaBrie impecável como há muito eu não via. Só que esses ainda não são os motivos de eu ter escrito esse texto.

Na época do colégio (anos 2000) eu era ultra-viciado nesses caras e meu objetivo, como aspirante a guitarrista, era atingir esse nível de excelência, tanto na execução quanto na composição desse tipo de som. E eu conheci um baterista que tinha, de certa maneira, o mesmo objetivo – excetuando-se o fato de que ele era infinitamente melhor que eu, de partida. Criamos uma amizade absurdamente próxima, forte, verdadeira e baseada na paixão pela música como um todo e, sobretudo, pelos som de bandas como DT, Rush e derivados.

E éramos tão idiotas – no bom sentido – que passávamos horas sentados pelas escadarias da ETELG, por exemplo, “cantando os intrumentos” das músicas e fazendo air drum e air guitar como se fôssemos mentalmente desequilibrados. Talvez fôssemos. Quando juntavamo-nos efetivamente pra tocar, não era diferente. Podíamos não conseguir executar todos os sons como gostaríamos, mas não importava: naquele momento éramos os melhores músicos do mundo.

E esse cara tinha uma banda que tinha acabado de ficar sem guitarrista. Ele fez um belo dum lobby pra eu entrar na banda e, no final, acabei sendo aceito. Banda essa que também teria um papel importantíssimo na minha banda e cuja história merece post próprio…

Perdido ainda? Agüenta mais um pouquinho, por favor. 🙂

Uma das músicas que mais falávamos sobre, discutíamos a estrutura e nos maravilhávamos com a composição era a própria A Change of Seasons. Uma das minhas memórias mais vívidas do passado é justamente um dia à tarde, na ETELG, sem aula, em que ficamos sentados nas escadarias internas do Bloco 2 (um dos prédios da escola) cantarolando os 23:09 da música, nota por nota, pausa por pausa.

Foi mágico, foi impecável, foi besta, foi real.

Em 2005 esse cara, infelizmente, nos deixou por conta de uma tragédia dessas que não fazem o menor sentido e meu mundo (e o de muitas, mas muitas pessoas mesmo, também) ficou mais cinza. E só escreverei uma linha sobre isso – uma linha que foi bem difícil de escrever, inclusive. Seguindo…

Aí hoje, sem querer, lendo matérias sobre música acabo caindo nesse vídeo e começo a ver sem muita expectativa. O “feeling que o DT não tem” me dá um tapa na cara nos primeiros minutos e o nó na garganta vem. Há muito tempo não ouvia (e via, nesse caso) um som que trouxesse tantas memórias e enchesse meus olhos de lágrimas no meio do trabalho; um som que eu tinha esquecido o quão representativo e forte é pra mim; um som que, ironicamente, trata justamente dessa inconstância e efemeridade da nossa vida, da nossa própria mudança de estações.

Como diz mais do que apropriadamente o trecho do poema “To The Virgins, to Make Much of Time”, do poeta inglês Robert Herrick, poema este que ficou famoso no filme Sociedade dos Poetas Mortos e foi usado para dar suporte ao tema da música:

Gather ye rosebuds while ye may,
Old Time is still a-flying;
And this same flower that smiles today
To-morrow will be dying.

A vida dá e tira, as coisas chegam e vão, tudo é movimento, tudo é começo e fim. A gente precisa aproveitar a vida e suas coisas boas com intensidade e paixão, pois é isso que nos dá sentido.

E a você, André, onde você estiver espero que esteja compartilhando sua alegria, simplicidade e pureza com todos a seu redor. Você faz uma falta absurda aqui, mas sou extremamente grato por ter convivido com você o tempo que convivi – e tenho certeza que você olha pela gente o tempo todo e se diverte com o pouco de você que ficou em cada um de nós.

É isso.

Ah, e ouve lá o som. Vale a pena, sobretudo se acompanhar com a letra.

Abraços.

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