"À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"

Tag: exaustão

Segunda-feira fria. Mente longe de vazia.

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Há uma pressão tão absurda pra que sejamos excelentes e bem-sucedidos em tudo que torna quase impossível lidar com as frustrações que surgem quando, de uma maneira ou de outra, nos arrependemos de alguma decisão.

Eu já escrevi isso aqui outras vezes, de maneira mais ou menos direta, mas eu cresci com uma expectativa altíssima em cima de mim, seja posta por terceiros, seja, posteriormente, absorvidas por mim mesmo. E isso tem, mais do que nunca, sido um adversário formidável nos últimos meses, pra ser honesto. Eu mesmo me coloquei tantos objetivos que não atingi, tantas vontades que não realizei por pura e simples desorganização mental que, hoje, sinto todo esse peso existencial em cima de um corpo e mente cansados.

Vez ou outra eu acordo com um bolo na garganta que não sei o que é, mas podemos chamar de angústia, ansiedade, medo. E nesses dias, num piscar de olhos, é justamente quando começo a me questionar mais intensamente – e, obviamente, a questionar minha decisões, mesmo que elas tenham sido tomadas 20 anos atrás e sejam sobre absolutamente qualquer coisa.

Em 2 meses completo 40 anos – e eu realmente gostaria de estar mais em paz, sentindo que defini um norte verdadeiro quando isso acontecer. Eu realmente sinto que há um limite na minha mente que, se eu já não atingi, estou a alguns poucos metros de atingir.

“Tudo vale a pena se alma não é pequena”, já diz Pessoa. No entanto, não há alma que sustente uma mente esgotada.

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O cansaço tingido de espanto

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Já perdi a conta de quantas vezes postei esse trecho do Camus em todas as versões de blog que eu tive, mas ele nunca deixa de ser relevante ou atual.

Aos poucos vamos deixando de viver para sobreviver; sobreviver num caos diário buscando sentido para as mecanidades da vida e aliviar a fadiga mental que cresce.

E não cabe a ninguém mais, além de nós mesmos, escalar pra fora desse caos.


Ocorre que os cenários se desmoronam. Levantar-se, bonde, quatro horas de escritório ou fábrica, refeição, bonde, quatro horas de trabalho, refeição, sono, e segunda, terça, quarta, quinta, sexta e sábado no mesmo ritmo, essa estrada se sucede facilmente a maior parte do tempo. Um dia apenas o “porquê” desponta e tudo começa com esse cansaço tingido de espanto. “Começa”, isso é importante. O cansaço está no final dos atos de uma vida mecânica, mas inaugura ao mesmo tempo o movimento da consciência. Ele a desperta e desafia a continuação. A continuação é o retorno inconsciente à mesma trama ou o despertar definitivo. No extremo do despertar vem, com o tempo, a consequência: suicídio ou restabelecimento. Em si, o cansaço tem alguma coisa de desanimador. Aqui, eu tenho de concluir que ele é bom. Pois tudo começa com a consciência e nada sem ela tem valor. Essas observações não têm nada de original. Mas são evidentes: por ora isso é suficiente para a oportunidade de um reconhecimento sumário das origens do absurdo. A simples “preocupação” está na origem de tudo.

“O mito de Sísifo”, Albert Camus

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