"À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"

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Segunda-feira fria. Mente longe de vazia.

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Há uma pressão tão absurda pra que sejamos excelentes e bem-sucedidos em tudo que torna quase impossível lidar com as frustrações que surgem quando, de uma maneira ou de outra, nos arrependemos de alguma decisão.

Eu já escrevi isso aqui outras vezes, de maneira mais ou menos direta, mas eu cresci com uma expectativa altíssima em cima de mim, seja posta por terceiros, seja, posteriormente, absorvidas por mim mesmo. E isso tem, mais do que nunca, sido um adversário formidável nos últimos meses, pra ser honesto. Eu mesmo me coloquei tantos objetivos que não atingi, tantas vontades que não realizei por pura e simples desorganização mental que, hoje, sinto todo esse peso existencial em cima de um corpo e mente cansados.

Vez ou outra eu acordo com um bolo na garganta que não sei o que é, mas podemos chamar de angústia, ansiedade, medo. E nesses dias, num piscar de olhos, é justamente quando começo a me questionar mais intensamente – e, obviamente, a questionar minha decisões, mesmo que elas tenham sido tomadas 20 anos atrás e sejam sobre absolutamente qualquer coisa.

Em 2 meses completo 40 anos – e eu realmente gostaria de estar mais em paz, sentindo que defini um norte verdadeiro quando isso acontecer. Eu realmente sinto que há um limite na minha mente que, se eu já não atingi, estou a alguns poucos metros de atingir.

“Tudo vale a pena se alma não é pequena”, já diz Pessoa. No entanto, não há alma que sustente uma mente esgotada.

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Reflito, logo, emputeço, logo, movo-me?

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Eu tenho refletido muito sobre muitas coisas essas últimas semanas. Na verdade, eu acho que eu reflito sobre tudo desde que descobri o que é refletir.

Eu voltei a ler bastante. Não livros (ainda), mas artigos, newsletters, matérias… não sei se isso é bom ou ruim, mas sinto minha cabeça sendo levemente massageada de novo. Ainda acho que tá bem longe do que eu gostaria que fosse (sim, eu tenho um estado ideal na minha mente e nenhuma terapeuta vai me convencer de que “tudo bem não ser dessa maneira”), mas já tá melhor do que era antes.

Isso faz com que, que surpresa, eu reflita muito mais e sobre tudo. Talvez por isso que tenho estado tão exausto mentalmente nos últimos tempos; minha cabeça, que nunca foi muito quieta, é verdade, não para um segundo de funcionar.

De qualquer maneira, sobre estar consumindo mais textos novamente, a escritora e minha amiga de faculdade Raquel Terezani, por exemplo, escreveu um texto muito interessante sobre “raiva” e tem um trecho, especificamente, com o qual me identifiquei bastante:

“A raiva me é útil, me moveu muitas vezes. Me incitou a fazer muitas coisas das quais me orgulho, desde confrontar pessoas que me magoaram (e assim superar certas situações), até criar ficção. Lembrei agora de quando um estelionatário deu golpe numa amiga minha (casou com ela inclusive e depois desapareceu) e de como o ódio que eu senti dele se tornou um conto sobre vingança (já que não pudemos matá-lo e sumir com o corpo).

A raiva faz parte de mim. Eu gosto dela.


Eu concordo 200%. Eu tinha uma frase no passado que era “o ódio move o mundo” e eu ainda concordo muito com isso, não de um jeito niilista ou trevoso, mas dum ponto de vista prático. A raiva, de certa forma, nos indigna e nos faz querer agir (ou deveria); ela é a pedra no sapato, a gasolina no fogo.

Mas porque estou falando sobre isso? Bem, porque acho que outro sentimento similar é o desconforto. Aquela sensação de que algo está fora do lugar, seja você ou seja outra coisa. E acho que é seguro dizer que o fato de eu estar refletindo mais que espelho polido, estar lendo mais, observando mais me sinto desconfortável como há muito não me sentia e, honestamente, tenho sentido bastante raiva também.

Resta saber se isso vai me fazer ir pra algum lugar ou vai viver eternamente nesse texto aqui.

Veremos.

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Sobre Fé, ou o que sobrou dela

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Eu acho que perdi minha fé. Não totalmente, mas, alguma coisa eu perdi.

Digo, existem vários tipos de relação com Deus, fé e afins e a minha sempre foi bem flexível, pra ser honesto. Flexível porque sempre fui capaz de ficar dias sem nem lembrar de Deus mas, quando o calo apertava, lá ia eu correndo pra pedir “luz, força e direcionamento”.

Outro dia me vi nesse mesmo lugar, tomando banho e pensando que precisava talvez voltar a frequentar a missa, ou dar um pulo numa igreja ali perto do trabalho, que adotei depois que sentei em seus bancos por algumas vezes no meio do expediente em diferentes momentos em que coisas não estavam muito legais.

O problema é, que dessa vez, veio uma voz dizendo “precisa, mesmo?” – e isso me pegou.

Eu sempre gostei da ideia de que fé e religião são coisas extremamente pessoais e que os efeitos dos nossos pedidos e orações só são percebidos em sua totalidade por aquele que pediu. Nunca pensei nessa relação como Deus sendo o Jim Carrey em “O Todo Poderoso”, em que eu peço ajuda com alguma coisa e lá vai Deus ver o que ele pode fazer pra me ajudar; isso sempre me pareceu uma idéia muito egoísta de Deus (infelizmente, essa é a concepção mais popular). E, convenhamos, Deus tem (ou deveria ter) coisa mais importante pra se preocupar do que me ajudar a conseguir uma promoção ou com o meu controle emocional pra não espancar o coleguinha de trabalho.

No entanto, sempre acreditei que o rito da fé e da oração são componentes poderosíssimos no ser-humano e na sociedade. Há uma crescente quantidade de estudos, que vem de pelo menos 20 anos, sobre a relação fé x ciência (exemplo de 16 anos atrás). Além disso, sempre acreditei no mundo espiritual e na existência de algo maior do que nossa vida medíocre e limitada e que, quando oramos, alguma coisa acontece nesse reino e gera uma espécie de “efeito borboleta” que, ultimamente, influencia a vida na Terra.

O problema é que, conforme os anos foram passando, eu comecei a perceber que, de certa forma, minha fé virou uma espécie de muleta espiritual a quem eu recorro sempre que eu me vejo olhando pra uma parede sem saber o que fazer, o que, por si só, não seria necessariamente um problema. No entanto, o comportamento com o resultado é. Na maioria das vezes, talvez de uma maneira inconsciente, eu fazia algo diferente e isso resultava num resultado positivo pra mim, uma evolução e eu me dava tapinhas nas costas por ter conseguido superar aquele desafio. Já quando nada acontecia, eu corria pra culpar e questionar Deus.

Conveniente, né? Pois bem.

Quando eu digo que “acho que perdi a minha fé” não é como se eu tivesse deixado de acreditar que Deus (ou qualquer divindade, dependendo em que o leitor acredite) exista, mas é como se eu tivesse perdido a capacidade de acreditar que, se há um reino espiritual, ele liga pra o que eu faço ou deixe de fazer aqui embaixo. Digo isso por algumas razões: certamente existem pessoas ou situações que precisem muito mais de uma intervenção divina do que eu; essa relação de “atendemos primeiro que mais pede” não me parece o tipo de troca justa, sobretudo em se tratando da relação com o divino; a sensação incômoda de, no fim, não ser dono das minhas decisões.

Por isso eu acho que perdi minha fé. Ainda acredito que alguém olha lá pela gente e tudo, mas acho que deixei de acreditar que minhas angústias são catalisador de alguma coisa, boa ou ruim, se as colocar num pedido “de coração contrito e humilde”. Eu acredito em Deus e gosto de acreditar na idéia de um Ser-além-do-tempo-e-espaço que se diverte com o quão imbecil pode ser uma de suas criações. Mas acho que, depois de muitos anos, não sei o quanto acredito que alguém me ouve quando eu choro sozinho.

Sabadou.

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